"Anos de Ouro" Exposição de Pintura de Ana Cristina Dias

Artistas
Ana Cristina Dias I
Data de início
22 de Setembro de 2011
Data de fim
15 de Outubro de 2011

Ana Cristina Dias nasceu em Lisboa em 1967.
Fez o curso de Imagem e Comunicação Audiovisual da Escola António Arroio. Em 1990 ingressa no curso de pintura da Faculdade de Belas Artes de Lisboa.

Dedica-se à figura humana, mas explora outros elementos nas suas obras como os bichos, enquadramentos no feminino ou perspectivas arquitectónicas, tudo com grande liberdade de expressão e seguindo um único pensamento, “alcançar a simplicidade pois é aí que reside a beleza das coisas”.

Expõe com regularidade desde 1994 em mostras colectivas e, entre 2000 e 2005, realiza também algumas exposições individuais em diversas galerias e espaços de promoção artística por todo o País. Entre 2005 e 2010 fez uma pausa de reflexão e aprofundamento da sua actividade artística na pintura, dedicando-se à fotografia e à ilustração.

Em 2010 Ana Cristina Dias retoma a apresentação pública dos seus trabalhos em três exposições colectivas, agora com um traço mais enérgico, utilizando paletas de cores bem conjugadas e temáticas muito singulares, donde resultam trabalhos muito expressivos e de grande sensibilidade que deixam adivinhar uma enorme potencialidade artística a desabrochar.

Sobre esta exposição, José Mourão, artista plástico e professor na AGA, quis deixar o seu testemunho e preparou o seguinte texto para o catálogo:

As últimas obras que, agora, a pintora Ana Cristina Dias nos propõe, apontam no sentido da memória. Da sua memória. Memórias de infância e de juventude. Recordações de vida. Os pássaros do pai; o voo do imaginário; o ar de outros tempos; os sonhos e os pesadelos de quem sente a família primeira.

Mais uma vez há como que um vasculhar pela arca do vivido e daí retirar as pequenas histórias do seu universo pessoal: – uma bola de sabão soprado; – uma metáfora de pássaros e borboletas evocando as suas duas irmãs; – um vestido vivenciado a duas por geminação pura; – um jogo das escondidas; – a magia do transformado; – as falsas transparências; – a alegoria do gato e do pássaro; – a recordação do movimento dum baloiço familiar num lugar de férias; – a evocação dos desenhos de alguém, agora, revividos nos seus quadros; – a paixão em contar as suas histórias e em recordar histórias doutros; – o poder que reconhece na pintura de pintores que a contaminam…

Estas últimas pinturas são construídas com o recurso a uma estrutura de figuras avulsas. São pequenas parcelas de figuras únicas. Suportadas por apontamentos de animais que, tanto ocupam um lugar paralelo ao das personagens humanas, como são registados no papel de evocação fantasmática. Seres insinuados. Seres que são escondidos com propósitos por revelar. Na representação de tudo isto sente-se a pintora. A mão ao esvoaçar deixa marcas expressivas de pequenas manchas que depositadas numa certa ordem/desordem evidenciam formas, sinais, ideias, insinuações e conclusões.

A pintora deixa-nos a sós. Deixa-nos a sós na procura do indizível. Deixa-nos envolvidos pela estranheza do que é simples. Pouco importa se há: uma paisagem; um interior; um móvel; um objecto; um espaço… quando o que se procura é que enquanto espectadores sejamos motivados a participar na realização destas histórias. Histórias com gente e ainda com bichos.

Ana Cristina Dias denota, por detrás de uma certa timidez, uma vontade e tenacidade invulgar. Revela-se uma pintora destemida e desinibida. Percebe-se que pinta como respira tornando a pintura em mais uma das suas funções vitais. Há uma insaciável procura em dizer pelas imagens e pelas cores como é que se situa numa certa maneira de viver.